As diferentes máscaras que usamos diariamente – seja na internet, seja administrando pequenos ajustes de personalidade a depender da pessoa com quem interagimos – é um assunto que sempre me atraiu.
Já reparei que minha voz em vídeo nas redes sociais é diferente da que uso com meus amigos; quando falo ao telefone com meus pais, o “genti” da capital automaticamente vira o “gente” do interior.
Nada disso é intencional. Segundo a psicologia, a gente se ajusta mesmo. O psicólogo Charles Cooley chamou esse fenômeno de “the looking-glass self”, uma teoria que descreve o processo no qual os indivíduos baseiam seu senso de si próprios em como eles acreditam que os outros os veem. Com a interação social agindo como uma espécie de “espelho”, usamos os julgamentos alheios para medir nossos próprios valores e comportamento. Com isso, Cooley defende que o autoconceito é construído não na solidão, mas em ambientes sociais. Por consequência, sociedade e indivíduos não seriam separados, mas sim dois núcleos complementares de um mesmo fenômeno.
O falso espelho se amplia
"Falso espelho”, René Magritte, 1929.
Nas redes sociais, esse efeito é claramente potencializado e toma proporções neuróticas. Ali, nosso senso de identidade é distorcido ainda mais porque estamos agrupados artificialmente por nossos desejos de consumo e nossa necessidade de aprovação externa.
Nessa engrenagem, quem dita nossa personalidade (ou, pelo menos, um ideal de) é o algoritmo. Performamos na internet uma versão editada de nós mesmos (até você, gata low profile).
Reféns do público
Metamorfose de Narciso, Salvador Dalí, 1937
Mês passado, seis pessoas me enviaram o mesmo artigo*, dizendo que eu me identificaria. Quando abri, fiquei assustada: é isso que as pessoas pensam de mim? My bad! Falei cedo demais. Depois de ler por completo, entendi. E fiquei feliz que tenham remetido à minha postura.
O artigo falava sobre como esse efeito do falso espelho, quando escalado para o universo da influência, tem por consequência influenciadores sequestrados pela audiência.
Para ilustrar, conta do influenciador Nicholas Perry que, em 2016, queria ser famoso online e começou a fazer vídeos tocando violino. Um dia, gravou a si mesmo comendo vários pratos enquanto falava com a câmera, como se estivesse jantando com um amigo. O público gostou do formato e começou a desafiá-lo a consumir grandes quantidades de comida.
Este era Nicholas quando começou a gravar:
Este, depois de atender aos infindáveis pedidos do público: